É tudo uma questão de merda

No outro dia vi no telejornal uma noticia mesmo tola. Foi sobre um assunto de “merda”, no caso de cães, e em Espanha. Acontece que uma determinada Câmara Municipal anda a “perseguir” as pessoas que andam a passear os seus cães na rua, eventualmente recolhem os dejetos dos animais (que os donos deviam recolher), embrulham tudo e enviam de volta às residencias dos donos dos bichos. Dizem eles que esta é uma solução para um problema que já se arrasta há muito tempo e que as ruas andam mais limpas.

O meu filho mais novo, que é de esquerda, começou logo a dizer que isto é uma vergonha, que andam a gastar o dinheiro dos contribuintes para mandar-lhes pacotes de “merda” para as suas casas, que andam a gastar dinheiro a perseguir as pessoas e bla bla bla.

A minha mulher, que é conservadora, achou bem, que se as pessoas querem ter cães devem ter cuidados, que deviam andar com saquinhos para apanhar os “cocós”, que também não gostam quando pisam aquelas bostas e bla bla bla.

O meu pai, que foi hippie, diz que os cães são seres livres, que não obedecem às regras parvas que os humanos se impõem uns aos outros, que aquelas coisas malcheirosas são naturais e não ácidos marados que só fazem mal, e que na vida tudo gira em torno da paz e do amor, e bla bla bla.

O meu filho mais velho, que é muito observador, disse que isso era normal, que os politicos portugueses também fazem isso, embora de modo diferente, mas no fundo mandam-nos “à merda” todos os minutos do dia, e bla bla bla.

Eu até estava contente com a diversidade de opiniões da familia, e lá fui beber uma bica. Por casualidade encontrei um amigo, socratista de gema, que estava a comentar o mesmo assunto, e dizia ele: isto é um erro dos espanhóis! Trata-se da educação dum povo, e não deve ser tratado de forma tão agressiva. Que o PS tinha solução para isso, e estava já para ser implementada, não fosse o chumbo do PEC4. e bla bla bla. A parte gira disto é que no café estava um espanhol, e respondeu da seguinte forma: No me digas que aqui enseñaron los perros a leer.

Jarro Martins