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Açorda da Pastora (ou Açorda do Pastor)




“Isto contava-me o meu pai que era um homem muito antigo. Se fosse vivo tinha agora 107 anos! Veja lá se ele sabia alguma coisa antiga. E então ele contava que a Açorda à Pastora, que ouvia contar aos pais dele, que são aquelas lendas que se contam… Que a Açorda á Pastora que nasceu da miséria. A grande miséria é que fazia com que as mulheres alentejanas descobrissem comidas, porque não sabiam o que haviam de fazer.
E a açordinha à pastora foi a mulher de um pastor que inventou. Tinha os filhotes lá na… na quê? Na choça. E as crianças queriam comer e ela não sabia o que havia de fazer. Não tinha nada porque o marido andava por lá atrás das ovelhas e, um dia, estava tão aflita que disse:
-Ai Nossa Senhora, o que é que eu faço para dar de comer a estas crianças?
Ora, pega na panelica de barro e vai pôr a panela. Pôs-lhe água para dentro ali ao destino de Deus. Pôs-lhe água para dentro e foi pôr ao lume e disse assim:
-Nossa Senhora o que é que irá sair daqui?
Pôs-lhe umas pedrinhas de sal lá para dentro e disse:
-Então e agora o que é que eu faço? Ponho-lhe um bocadinho de bacalhau.
Pôs-lhe um bocadinho de bacalhau. Coitadinha! Mal a ver-se na miséria, tinha que ser dividido.
-Então e agora os temperos? O que é que eu lhe ponho?
Foi buscar os ditos poejos. Trouxe uns raminhos de poejos, lavou-os muito bem e disse:
-Há-de ser o que Deus quiser que saia daqui! Então e não lhe ponho mais nada? Vá também uns dentinhos de alho.
Partiu uns dentinhos de alho, cortou-os e vá para dentro da panela. Aquilo começou a ferver e começou a cheirar bem. A mulher disse:
-Ah! Olha, cheira bem!
Lá foi à procura dos ovos das galinhas. Trouxe um ovinho também. Tinha que ser dividido por duas ou três crianças. E lá pôs o ovo dentro da panelinha. O que é certo é que a mulher quando foi provar a açorda, a açorda estava belíssima! Muito gostozinha. Nunca mais deixou de fazer.
Começou a ensinar aos outros e os outros depois diziam:
- Ah é a corda da pastora. É a açorda da pastora.
E assim ficou a açorda da pastora. E ainda hoje se diz.
Uns dizem açorda à pastora, outros é à pastor. É conforme dá mais jeito dizer. Assim é que eu ouvia contar ao meu pai que tinha nascido a açorda. Conforme apareceram outras coisas…”


Ingredientes (prato para 2 pessoas)
Sal q.b.
Água q.b.
2 Postas de bacalhau
2 Ovos
1 Ramo de poejos
1 Queijo mole (fresco)
1 Dente de alho (cortado em fatias finas)
½ dl de azeite
¼ de pão alentejano migado em sopas
Modo de Fazer
” Ponho primeiro uma panelinha com agua ao lume, umas pedrinhas de sal lá para dentro e umas “fatiinhas” de alho (um dente de alho). Uns raminhos de poejos e azeite. Ponho também um bocadinho de bacalhau e o ovo inteiro. E se houver queijo mole… também lá fica muito bem. Fica a cozer tudo junto. Quando tiver cozido, fica arredada um bocadinho.”
Modo de Servir
Numa tigela migam-se as sopas e deita-se o caldo com os condutos.


Receita: Mariana Rosa Coelho, 67 anos » Santana » 2007.Janeiro.17

Fonte:C.M. Portel