Oportunidades de negócio
O
Leo Postiço era um gajo influenciável. Embora fosse capaz de
descobrir oportunidades onde ninguém mais as via, o Leo deixava-se
arrastar por uma boa história. Hoje vou-vos contar o negócio das
“camisas de vénus” do Leo Postiço.
Uma
vez estava eu com o Leo e mais tres manos, o Lecas, o Coxo e o Zé da
Rosinda, assentados numa taberna, a beber tintos e a comer amendoins,
quando apareceu o Jorge Nice das Bifas. O Jorge Nice, como a gente
lhe chamava, era um galã do caraças, e as bifas não o largavam no
verão. O gajo vestia bué bem, e tudo de marca, sempre à conta das
bifas, que vinham de férias às praias de Setúbal, e que gostavam
de andar na brincadeira.
Quando
o Jorge Nice das Bifas fez 30 anos teve problemas com a mãe, farta
de o sustentar. O pai dele estava preso, injustamente, desde que ele
ainda não tinha nascido. Então o Jorge Nice arranjou um trabalho
num barco de cruzeiros, nas lavandarias, e, de vez em quando vinha de
férias à mui nobre cidade sadina.
Quando
entrou na taberna do ti Xico, viu e foi cumprimentar os amigos. Pagou
uma rodada de copos de tres e começou a contar as suas peripécias.
O Leo parece que “bebia” as palavras do Jorge Nice das Bifas, mas
ninguém pareceu incomodado. O Leo não era nenhum roto.
Às
tantas, o Jorge Nice das Bifas contou que tinha ganho uma pipa de
massa na última viagem, um cruzeiro desde Nova Yorque até Porto
Rico, com mais duma dezena de escalas. Disse o Jorge Nice das Bifas
que tinha comprado 10 caixas de preservativos, com 100 unidades por
caixa, a 10 cêntimos cada, e que os vendeu todos a 1 dolar cada.
Tinha-se lembrado de ter para venda aos colegas, que andavam a comer
as camareiras filipinas e indonésias, mas que a palavra se espalhou
e às tantas já eram os passageiros quem vinha comprar.
Bom,
quando j'a estava tudo besana foram embora, marcaram reunião para o
dia seguinte e cambalearam alegremente até casa.
Os
dias iam passando, e as semanas, até que uma vez estava o Zé da
Rosinda na taberna e perguntou ao Coxo: eh pá, sabes o que aconteceu
ao Leo?
Quando
o outro disse que não sabia nada e que não tinha visto nada, o
Jorge Nice das Bifas contou que o Leo se tinha espalhado. Atão o
gajo foi a casa da avó e gamou-lhe a placa. Era uma placa que ela
tinha herdado do marido, e que usava já desde que ficou viúva.
Tinha um dente de ouro. O gajo gamou a placa e foi vender o dente, ao
empregado do Dr. Noronha.
Com
a massa na mão foi aos indianos comprar uma ganda macheia de camisas
de vénus, e foi pa Alcantara. Aí conseguiu meter-se num barco que
fazia um cruzeiro ao mediterrâneo, e cheio de suecas e norueguesas.
Até aí tava tudo bem, mas o pior foi quando o Leo finalmente saiu
do seu esconderijo, e viu as passageiras, e atão a gaja mais nova
tinha mais de 70 anos, e parece que os gajos ainda eram mais velhos.
Olha,
dizia o Zé ao Coxo, ví o gajo no Faralhão, com medo de vir pa casa
porque a avó disse que lhe dava um tiro, teso que nem um carapau e
com uma sacada de camisas de vénus que vai lá vai.
Jarro
Martins