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Choro pago nos funerais


Carpideira é uma profissional feminina cuja função chorar para um defunto alheio. É feito um acordo monetário entre a carpideira e os familiares do defunto, a carpideira chorava e mostrava seus prantos sem nenhum sentimento, grau de parentesco ou amizade.

A profissão existe há mais de 2 mil anos. No Brasil, as carpideiras chegaram junto com a colonização portuguesa. Inicialmente o pagamento não era feito em dinheiro, mas com bens da família do defunto.

Choro pago

Existiam desde os tempos de Cristo, mas quem iria imaginar que sobrevivessem até os dias de hoje? Estamos falando das carpideiras, cujo trabalho, lá como agora, não mudou: são mulheres pagas para chorar nos funerais. No Brasil, são poucas as profissionais, principalmente no Nordeste, das quais se exige talento para chorar copiosamente e, mais do que isso, sensibilidade. A atriz Itha Rocha, 54 anos, é remanescente de uma família de especialistas em choro e lamúria. Diz que antigamente as carpideiras profissionais cumpriam o estatuto das 12 tábuas, que coibia a histeria. Eram divididas em grupos; algumas entoavam cantos de louvor, outras choravam.

As carpideiras chegaram ao Brasil com os portugueses. Inicialmente, o serviço não gerava dinheiro, conforme Itha ouviu de sua bisavó. "O defunto deixava boi ou roupa para o pagamento", comenta. Mas a habilidade de verter lágrimas não é exclusividade dela; seus 11 irmãos, inclusive os homens, choram com facilidade. Não existe uma técnica para desencadear o choro. "Para nós, a morte é uma passagem. E para que essa passagem seja feita de forma tranqüila, bonita, é necessário alguém chorar", declara. Na sua concepção, o trabalho consiste em transformar as energias negativas em positivas. "Quando a pessoa morre, o espírito dela fica algum tempo ao redor. As pessoas às vezes não respeitam e começam a falar de assuntos inadequados, inclusive, sobre herança", esclarece a atriz.

Itha começou a chorar por dinheiro paralelamente ao trabalho em uma empresa de telefonia com mais de 3 mil funcionários. "Quando perdia algum colega, fazia o papel da carpideira. O jornal interno realizou, inclusive, uma matéria a respeito do assunto. Descobriram-me; quando me dei conta desenvolvia a prática aqui em São Paulo." O valor cobrado varia de acordo com a família. "Não me prendo a valores, às vezes, vou de cortesia", diz.

Chorar profissionalmente implica, de vez em quando, situações inusitadas. O parente que chega alcoolizado e faz gestos e discursos engraçados; defunto que volta da necrópsia envolto em um lençol e ninguém leva roupa para vesti-lo; parente que chega de longe exigindo os bens do falecido. "Isso ocorre tanto em velório de rico quanto no de pobre", lembra Itha. Sem falar nas piadas, comuns no decorrer da madrugada. "Faço um relatório de tudo", brinca.